quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Outono em Madrid


Madrid respira outra textura quando o outono chega.
A cada manhã, o caminho foi um mosaico de cores: ocres, dourados, ferrugem que brilham sob um sol já tímido.
Por sorte o local de trabalho, neste días, foi o Parque do Retiro que se transforma num espelho do tempo.
Os passos sobre o tapete de folhas soam como cartas antigas sendo abertas.
O vento brinca com as sombras e faz parecer que o mundo é feito de véus que cobrem uns ou outros que revelam.
As pessoas apressadas passam, cheias de relatórios, prazos, e-mails por responder, mas o parque insiste em falar mais alto, com uma calma quase insolente.
Trabalho? Sim , mas por instantes que,foram breves, a cidade convidou à pausa.Um café na Plaza Maior e por um segundo o tempo derreteu.As cores dissolveram-se e o laranja virou âmbar, o verde confunde-se com o cobre, e o céu parece pintado à mão, como se alguém tivesse decidido misturar mel e cinza.
E então, no meio da pressa, algo desperta:o som das folhas dançando sozinhas.

E amanhã ? amanhã é dia de voltar ao Porto, a minha cidade.
Levo comigo o som das folhas, o perfume do cafe , e essa certeza suave de que o tempo também sabe ser gentil.
Madrid fica em mim como um suspiro morno de outono.
O Porto, esse, espera -me com o coração aberto e com o cheiro do mar que nunca se esquece.

Bj utópico 
Dri

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O Vento, os Direitos Humanos e a Música


O vento sopra, não pede licença, não conhece fronteiras, porque ele simplesmente é assim. E talvez seja por isso que ele me faz pensar nos direitos humanos, porque, como o vento, estes deveriam pertencer a todos, sem passaporte, sem muro, sem condição. O vento não pertence a ninguém, e talvez seja o professor mais antigo de liberdade que o planeta conhece pois ele sopra sobre todos: ricos e pobres, certos e errados, santos e pecadores. O vento não escolhe lados, apenas circula, logo ele é mais justo que muitos sistemas humanos.

Nos anos 60, quando as ruas cantavam a liberdade e os cabelos dançavam soltos, um poeta chamado Bob Dylan transformou o vento em pergunta: “How many roads must a man walk down?”
A arte, naquele tempo, foi a respiração dos que não podiam gritar, foi mural, foi melodia, foi poema ou mesmo resistência.

E foi isso que hoje tentei lembrar aos meus alunos: que cada traço, cada palavra, cada acorde é uma semente de futuro. Não apenas o futuro deles, mas o futuro de uma geração que precisa aprender a sentir antes de decidir, a sonhar antes de desistir.

Conclusão hoje o vento, Dylan, os direitos humanos e alunos, tudo se misturou no meio de um turbilhão, mas ainda acredito que um simples sopro de arte pode mover montanhas mais firmes que qualquer estrutura de poder.

Porque o vento não se vê, mas sente-se. E assim também é a liberdade.

Bj utópico
Dri

sábado, 4 de outubro de 2025

Jazz


 Algumas presenças chegam silenciosas, e outras chegam como quem sabe que veio para ficar. A Jazz chegou assim, a nossa  Jack Russell, mas com uma intensidade que preencheu todos os cantos da  casa. 

No início, foi só curiosidade: um olhar que observava, cada gesto, cada respiração. Aos poucos, tornou-se companhia, confidente e afeto que não se mede. 

O Dia do Animal já não é apenas uma data. É um aviso do que significa existir lado a lado com outra vida que não fala, mas se faz ouvir com cada gesto, cada toque, cada pulo de alegria. A Jazz trouxe-nos uma nova forma de celebrar: não com palavras, mas com presença.

Ao acordar com um olá a abanar a cauda, a partilhar silenciosamente o sofá, as suas pequenas travessuras  lembram-nos que a família não se limita a quem partilha sangue, mas também àqueles que tornam os dias mais leves e o coração maior.

E assim, neste Dia do Animal, celebramos a nossa Jazz. Celebramos cada instante que nos lembra que o amor pode caber em quatro patas, e que, às vezes, a maior lição de vida vem de um olhar curioso e de um coração que nos escolheu para ser o seu mundo.

Bj utópico

Dri



quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A música e eu

Cresci com a música. Não apenas com os sons que vinham da rádio ou do walkman, mas com a música que o meu pai carrega dentro dele.

Ele tem o hábito de encher o silêncio com melodias, com acordes que entram pela sala, atravessam as paredes e se escondem na memória.

Foi assim que desde pequena aprendi que a música não é apenas som. A música é presença, é afeto que se transforma em notas, é uma herança invisível que molda quem somos, sem pedir licença. A música está em tudo desde o respirar lento das manhãs, no silêncio carregado de lembranças, no barulho da rua, no riso que escapa sem pedir licença ou até mesmo na tristeza que dá ritmo ao choro ao embalar um coração cansado.

A música fez parte da minha infância e da minha adolescencia, mas sempre me acompanhou em todos os caminhos que percorro. E hoje esta ligação à musica atravessa gerações e idiomas com o meu filho e os meus sobrinhos.

Com a música hoje vejo um avô que oferece canções como quem oferece colo. E um neto que recebe notas musicais como quem recebe raízes. E, juntos, criam um espaço onde o tempo não para, porque o que vibra é eterno.

Talvez seja isso a música: um abraço que não conhece idade. 

E quando o dia parece mudo, basta fechar os olhos para que alguma nota escondida desperte dentro de nós.

Bj utópico

Dri


Outono em Madrid

Madrid respira outra textura quando o outono chega. A cada manhã, o caminho foi um mosaico de cores: ocres, dourados, ferrugem que brilham s...