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A mostrar mensagens de 2025

Quem somos, afinal?

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Esta pergunta ecoou em mim, pela primeira vez, na adolescência, quando mergulhei nas páginas do livro O Mundo de Sofia.  Na altura, achei que era só mais um livro — uma perspectiva filosófica, diziam os adultos. Mas, hoje ao ouvir os discursos do Dia de Portugal, descobri que aquela pergunta ficou: quem somos? Talvez tenha ficado nas gavetas da memória como uma pedra no sapato ou como uma semente no coração. A verdade é que hoje, tantos anos depois, ao escutar o discurso da Lídia Jorge — aquela voz que carrega a lucidez serena de quem já viu muito — fui levada de volta ao Mundo de Sofia e das interrogações. Lídia Jorge disse:  “Cada um de nós é uma soma. Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou.” E então pensei que podia responder à adolescente que leu o Mundo de Sofia que somos todos mistura. Mistura de histórias, de dores, de conquistas e s...

O dia da Criança....

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No dia 01 de Junho festejamos o Dia da Criança, mas só hoje tive tempo de escrever sobre esta data. O Dia da Criança não deve ser só mais uma data para balões coloridos e brinquedos embalados. É um convite à consciência. Um alerta de que, por trás dos sorrisos infantis, há uma realidade que ainda grita por justiça, equidade e respeito.  Ser criança é viver com os olhos abertos para o espanto, é transformar caixas em castelos, é colher estrelas no quintal. É acreditar que o mundo pode ser justo, que os adultos sabem todas as respostas e que o amanhã é sempre uma promessa de aventura. Mas, neste mundo que construímos, quantas crianças têm o direito de apenas ser? Quantas podem brincar sem medo, sonhar sem limites, crescer sem pressa? Todos os dias, vejo um fosso doloroso entre a teoria e a prática, um sistema jurídico, que apesar de prever garantias robustas, permanece muitas vezes inoperante diante dos direitos das crianças. Como defendo os direitos da criança ainda são uma utopia ...

As feridas da alma em Lampedusa

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É 01h da manhã. A casa está em silêncio, mas cá dentro há um ruído que não me larga. Sinto uma urgência que não me deixa adormecer — a urgência de escrever. Hoje escrevo com o som suave de Morricone que embala os pensamentos, enquanto a minha cadela dorme tranquila, deitada ao meu lado. Há uma paz estranha neste cenário, mas também um peso no peito. Porque escrever, para mim, é isso: uma forma de resistir à indiferença, de gritar baixinho ao mundo que há coisas que não podemos ignorar. As palavras são pequenas lanternas que acendemos na escuridão. E esta noite, talvez alguém, em algum lugar, as veja… e acorde também. No dia 27 de Maio , por razões profissionais assisti ao seminário “Migrações: Acolher e Integrar, que desafios?”, uma iniciativa do Município de Valongo. Era só mais uma manhã a falar sobre migrações, pensava eu. Mas não era. Nada foi “só”. O Dr. Pietro Bartolo, médico de Lampedusa e ex-eurodeputado, subiu ao palco com a voz serena de quem carrega o peso do mundo… e, aind...

Saudade

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Hoje recebi uma mensagem simples. Daquelas que, à primeira vista, poderiam passar despercebidas num dia cheio. Mas não passou. Uma mensagem de um amigo. Um amigo que vive do outro lado da fronteira – em Espanha, onde o idioma é outro, o tempo tem outro ritmo, e onde a palavra saudade... simplesmente não existe. Mas como lhe explicar o que é saudade? Vou lhe dizer que: Saudade é uma palavra que só existe no português. Mas mais do que uma palavra, é um sentimento. É quando alguém está longe, mas ainda assim muito perto de nós. É quando algo passou, mas continua a viver em forma de memória viva. É querer perto, mesmo entendendo que nem sempre dá. É presença na ausência. Ele talvez, mesmo sem entender tudo vá responder : “Entonces, yo también te tengo... esa cosa sin nombre.” E nesse momento, percebemos que talvez não seja mesmo preciso traduzir. Porque sentimentos, quando são verdadeiros, atravessam qualquer idioma. E que a saudade – essa que sentimos- é uma prova bonita de que viver tem ...

Cidades da minha vida: a surpresa chamada Sitges

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O relógio marca 23:18 e uma conversa de WhatsApp, traz a saudade do mar, do sol a aquecer a pele, da brisa salgada a emaranhar os cabelos. Saudades de um lugar que me prendeu sem eu sequer perceber: Sitges. Não foi uma cidade planeada, não foi um destino de ferias, foi um destino de trabalho. Mas há lugares assim que chegam de mansinho e, quando damos por nós, já deixaram marca. Foi exatamente isso que aconteceu com Sitges. Lembro-me da primeira vez que a vi. O mar azul intenso a beijar a areia dourada, as ruas estreitas cheias de vida, os edifícios brancos com varandas floridas. Uma espécie de encanto natural misturado com uma energia vibrante. A cada esquina, um detalhe a fazer-me suspirar. Pequenos cafés com mesas na calçada, lojas de artistas locais, o cheiro do Mediterraneo a envolver tudo. Uma cidade que respira arte, liberdade e leveza. Passear pelo Passeio Marítimo é um daqueles pequenos luxos que fazem a vida valer a pena. O sol a descer devagar, pintando o céu de laranja e ro...

O Amor é um Caos Bonito....

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Era pra ser um café rápido para falar sobre trivialidades. Aquele tipo de encontro despretensioso, mas ele riu-se e eu perdi-me. Não foi o riso mais bonito do mundo, nem daqueles risos que fazem ouvir os sinos tocarem, mas foi o riso mais sincero que eu já ouvi.(porque ainda nao sonhava ouvir o riso do nosso filho). A partir daí, o café virou horas, as horas viraram dias, e quando eu dei conta, eu já me ria das piadas sem graça dele como se fossem as melhores do planeta. O amor tem esta mania de remexer tudo. Há dias que pensamos que controlamos,  que conhecemos as regras do jogo e de repente .... ups porque com esse café surgiu uma pessoa, uma leveza, uma esperança.... Ele ensinou-me que o amor não precisa ser épico. Pode ser simples, mas intenso. Pode ser um olhar no meio do caos do dia, um "tenho saudades tuas" antes de desligar o telefone, um silêncio confortável depois de um dia longo, um colo num dia de cansaço, o esperar para jantar, o aceitar-me como sou com qualidade...

Gosto de ti até à exosfera!

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Amanhã é dia de teste de Ciências. Antes de dormir, sentamo-nos juntos e revimos a matéria: as camadas da atmosfera, os gases da Terra, a poluição, o aquecimento global. Antes de dormir , ouço :  — Mãe, sabias que a exosfera é onde os satélites orbitam? — Sim , é a camada mais distante da atmosfera. — Gosto de ti até à exosfera… e muito mais além. Eu sorrio e digo agora fecha os olhos pois é hora de sonhar. Sonhar talvez com estrelas, talvez com um mundo melhor onde o ar é puro e o planeta respira. Na verdade os teus dez anos ainda não permitem que percebas a metáfora que a Terra tem camadas, assim como nós. Há uma crosta que todos veem, onde os dias correm apressados, as palavras voam e os gestos se desenham na superfície. Depois, há um manto, mais profundo, onde as emoções se misturam como rochas em fusão, onde guardamos as saudades, os medos e os sonhos. E no centro, o núcleo temos o coração da Terra, quente e que pulsa, tal como o amor entre mãe e filho. Uma força invisível, ma...

Leitura Golda Meir

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Comecei a ler   A Minha Vida – Memórias  de Golda Meir e senti que mergulhei na história de uma mulher que, contra todas as probabilidades, tornou-se a primeira-ministra de Israel e uma das figuras mais marcantes do século XX.  Mas este livro não é apenas um relato político – é também um testemunho sobre o que significa ser mulher, ser mãe e navegar num mundo onde as decisões importantes, historicamente, sempre pertenceram aos homens. Golda Meir não esconde os dilemas que enfrentou ao longo da vida. Desde cedo, sentiu que sua missão ia além das paredes de casa, mas isso não a poupou da culpa e do conflito interno de tantas mulheres que tentam equilibrar carreira e família. Ela menciona, em diversos momentos, as dificuldades de conciliar a vida política com a maternidade, o peso das ausências, e a complexidade de criar filhos enquanto se dedica a uma causa maior. A leitura deste livro num contexto atual traz-me algumas reflexões. Ainda hoje, mulheres em diversas áreas enfr...