Quem somos, afinal?
Esta pergunta ecoou em mim, pela primeira vez, na adolescência, quando mergulhei nas páginas do livro O Mundo de Sofia. Na altura, achei que era só mais um livro — uma perspectiva filosófica, diziam os adultos. Mas, hoje ao ouvir os discursos do Dia de Portugal, descobri que aquela pergunta ficou: quem somos? Talvez tenha ficado nas gavetas da memória como uma pedra no sapato ou como uma semente no coração. A verdade é que hoje, tantos anos depois, ao escutar o discurso da Lídia Jorge — aquela voz que carrega a lucidez serena de quem já viu muito — fui levada de volta ao Mundo de Sofia e das interrogações. Lídia Jorge disse: “Cada um de nós é uma soma. Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou.” E então pensei que podia responder à adolescente que leu o Mundo de Sofia que somos todos mistura. Mistura de histórias, de dores, de conquistas e s...