Artigo noticias do douro: cartas de amor....

Cada vez mais, vivemos na era da tecnologia. Hoje em dia esquecemos o prazer de escrever e substituímos o papel de carta pelas sms, pelos e-mails ou mesmo pelos cartões electrónicos.

Esquecemos o prazer de abrir um envelope repleto de sentimentos, de palavras com uma sonoridade especial e mesmo convites para partilhar uma vida a dois. Esta minha reflexão deriva de uma viagem até casa.
Naquele dia optei por ir para casa pela marginal do Porto. O caminho é mais longo, mas a paisagem imbui o meu espírito de paz e de romantismo. Contudo convém acrescentar que este romantismo foi adicionado pelas palavras do locutor da rádio que recordava com carinho o Dia dos Namorados e o celebre poema de Álvaro Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, onde este escreveu que, e passo a citar: “Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.”A verdade é que ao ouvir o locutor a declamar o referido poema, comecei a pensar nas cartas de amor que, durante a minha adolescência, li e mesmo aquelas que escrevi. Rapidamente conclui que Fernando Pessoa tem toda a razão quando escreve que estas são ridículas, cheias de palavras esdrúxulas e de sentimentos, também, esdrúxulos. Mas relembrar estas palavras fez-me sorrir enquanto seguia pela marginal acompanhada pelo Douro.
Não obstante a arte de escrever cartas de amor, não consegui abstrair-me do sentimento que as envolve. Um sentimento que se desenvolve de várias formas e com vários graus de intensidade. Mas, a verdade, é que este envolve novos e velhos e como consequência transporta-os para o mundo das cartas de forma a manter o romantismo esquecido. Porém na minha reflexão, paralelamente as cartas de amor próprias da juventude e do romantismo, encontrei na nossa sociedade as referidas cartas da nossa sociedade política. Esta vive tempos de crise ou mesmo de constante ebulição, mas a verdade é que tem sempre tempo para escrever cartas de amor. As cartas são recíprocas entre governo e partidos de oposição ou mesmo entre as relações internas dos partidos. Senão vejamos, pensando na relação entre governo e partidos de oposição, somos forçados a recordar a partilha de cartas por causa do Orçamento de Estado e mesmo sobre a Lei das Finanças Regionais. A verdade é que, no âmbito destes dois temas, o governo viveu um constante namoro e troca de cartas de amor através das inúmeras reuniões extra-parlamento com os líderes da oposição. A troca de correspondência foi intrínseca, com palavras esdrúxulas, mas que, após palavras azedas, exigiu, como em qualquer namoro, sacrifícios por parte do ministro das finanças, nomeadamente através das suas declarações em que admitiu diminuir o seu salário ou mesmo quando decidiu realizar um ultimato aos partidos da oposição por causa da lei das finanças regionais. Claramente se pode ver que esta relação preenche todos os requisitos de um casal de jovens que, após imensas cartas de amor, decide encostar o outro contra a parede e o questiona ou eu ou o País.
Porém as cartas de amor, também se trocam, internamente, nos partidos da oposição, a excepção do CDS-PP que vive um amor idílico. Vive completamente apaixonado pelo seu trabalho, pelos portugueses, pelo seu líder e como tal por este país. Perante este amor forte e esdrúxulo, este não sente necessidade de trocar correspondência mas declamar para quem o quer ouvir. No entanto, no PPD-PSD, liderado por Manuela Ferreira Leite, as cartas de amor extraviam-se. Estas perdem-se entre a líder e os seus militantes e muitas vezes entre estes e a líder. Não obstante, a correspondência entre esta e membros com Pedro Passos Coelho, Jose Aguiar Branco ou Marco António Costa nunca se perde. Estes trocam constantes cartas com a líder e mesmo entre eles. Tentam a força que estas cartas sejam de amor, mas, na realidade, subjazem tantas vezes cantigas de escárnio e mal-dizer. Uns tentam mudar, outros dizem que não devemos mudar e outros ainda que devemos transportar a correspondência para uma esfera europeia. A verdade é que o papel destas cartas, vai-se desgastando, as letras vão desaparecendo e os militantes vão deixando de acreditar na força que deveria ser partilhada por este partido. O trilho destes partidos é idêntico aos restantes partidos que compõem a nossa Assembleia. Aliás a Assembleia será o lugar onde troca os primeiros olhares, onde fazem as suas serenatas e depois onde 230 deputados redigem, sentados na sua bancada parlamentar, as cartas de amor aos respectivos destinatários.
Enfim, este ano não vou escrever cartas de amor. Não quero escrever palavras esdrúxulas ou sentimentos esdrúxulos. Ao contrário da minha negação, vou espalhar oralmente aos que me rodeiam estas palavras exageradas, definidoras da minha maneira de ser e cujo o rio Douro me ajudou a escolher sem ferir a susceptibilidade de ninguém.

bj utopico
dri

Comentários

Doroteia disse…
Ainda não tinha lido, mas hoje resolvi dispensar uns minutinhos para ler o teu ultimo artigo.

O tema gostei, não fosse eu uma romantica incurável!

A forma como introduziste a politica com as cartas de amor, estão demais!

Realmente, é uma pena que se deixem de escrever cartas de amor, apesar de hoje serem por e-mail, sms, mas era muito mais giro por carta!

Beijokas e nunca deixes de escrever!

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