Escrevo este texto, depois de ter ido espreitar o meu filho e observa-lo a dormir tranquilamente. As suas respirações profundas enchem o quarto de um silêncio acolhedor. A calma da sua expressão contrasta com a tempestade de emoções que sinto. Amanhã ele dá um novo passo, uma nova etapa escolar, e o meu coração está feliz, mas também nostálgico. Enquanto o observo, é impossível não me lembrar dos momentos em que ele era apenas um bebé. O tempo passou num piscar de olhos. A cada nova etapa, a cada nova conquista, sinto-me orgulhosa, mas também as vezes nostálgica da criança pequenina que ele era. Amanhã ele vai com a mochila nova, rumo a uma nova etapa escolar, a uma nova escola, a novos amigos.... o que para ele, é uma aventura empolgante, para mim, é mais um sinal de que ele está a crescer. Há algo de majestoso em vê-lo crescer, algo que enche o meu coração de mãe com uma pitada de ansiedade. Será que ele se vai adaptar? Vai fazer novos amigos? Será feliz? Ao vê-lo dormir, penso nas n...
Existem momentos na vida que não precisam de muitas palavras. Às vezes, basta um simples abraço para expressar tudo o que sentimos, e foi exatamente isso que aconteceu numa tarde de outono no Porto. Entre o ameno da estação e a luz dourada do sol, um abraço entre mãe e filho sinónimo de um instante. No dia a dia, é fácil perdermo-nos, mas momentos como este fazem-nos lembrar do que realmente importa. O carinho entre mãe e filho é uma das formas mais puras de amor, uma troca silenciosa de apoio, proteção e afeto. O pai, quem estava atrás da objetiva da máquina , conseguiu capturar a essência desse momento: um encontro de emoções que só a família pode proporcionar. O outono do Porto tem este poder. As cores quentes das folhas, o aroma do ar fresco e a beleza da cidade criam o cenário perfeito para olharmos ao redor e percebermos que é nas pequenas coisas que encontramos os maiores tesouros. Esta foto será uma memória não apenas por ser bonita, mas por representar o verd...
Esta pergunta ecoou em mim, pela primeira vez, na adolescência, quando mergulhei nas páginas do livro O Mundo de Sofia. Na altura, achei que era só mais um livro — uma perspectiva filosófica, diziam os adultos. Mas, hoje ao ouvir os discursos do Dia de Portugal, descobri que aquela pergunta ficou: quem somos? Talvez tenha ficado nas gavetas da memória como uma pedra no sapato ou como uma semente no coração. A verdade é que hoje, tantos anos depois, ao escutar o discurso da Lídia Jorge — aquela voz que carrega a lucidez serena de quem já viu muito — fui levada de volta ao Mundo de Sofia e das interrogações. Lídia Jorge disse: “Cada um de nós é uma soma. Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou.” E então pensei que podia responder à adolescente que leu o Mundo de Sofia que somos todos mistura. Mistura de histórias, de dores, de conquistas e s...
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